segunda-feira, 6 de abril de 2009

Rodoanel: bichos morrem em obra

Parte dos animais era de espécies ameaçadas de extinção. Dersa diz que a culpa é da natureza

Em vez de receberem tratamento especial, mais de cem animais silvestres já morreram desde o início das obras de construção do Trecho Sul do Rodoanel, em áreas de Mata Atlântica. Parte era de espécies ameaçadas de extinção.

São veados catingueiros - um deles foi atacado por um cão -, macacos bugios, preguiças de três dedos, lagartos teiús, gambás, cobras, corujas orelhudas e várias outras espécies que deveriam passar por manejo cuidadoso, mas tiveram ferimentos graves ou sofreram estresse profundo - que resultaram em morte. Entre as causas dos óbitos, está o contato dos animais com os fios de alta tensão.

O gerente de Gestão Ambiental da empresa do governo do Estado que administra a obra, a Desenvolvimento Rodoviário SA (Dersa), Marcelo Arreguy Barbosa, descarta o crime ecológico nas obras do Rodoanel, que começaram em julho de 2007. A Dersa, segundo ele, está preparada para executar o projeto de manejo de animais silvestres. Para ele, a culpa pelas mortes é da natureza e o empreendimento deve ser isentado de imperícia ou negligência.

De 137 animais enviados para recuperação em parques e clínicas veterinárias, 105 não resistiram. Outros 371 foram devolvidos para a mata sem apresentar problemas, segundo dados da Dersa. Os mortos, porém, representam 21,9% dos que passaram pelas mãos dos técnicos da empresa.

Os animais encontrados nas áreas desmatadas que precisam receber atendimento veterinário são levados pela Dersa para parques - Pedroso, em Santo André, Estoril, em São Bernardo, e Ecológico do Tietê, em São Paulo -, ou encaminhados à Secretaria Municipal do Verde da capital. A Polícia Ambiental, às vezes, também os encaminha para veterinários particulares ou para um santuário localizado na zona oeste da Região Metropolitana.

O professor da Unesp Dênis Abessa acredita que manter animais silvestres em más condições caracteriza crime ambiental. “A alta taxa de morte dos animais no Rodoanel indica algum problema na coleta, no transporte ou nos momentos seguintes dessas operações”, diz. Os responsáveis poderão responder pelos danos.

'Tratamento adequado'

“Os animais receberam o tratamento adequado. A natureza é a responsável pelas mortes, jamais o empreendimento”, alega Barbosa, da Dersa. Ele diz que o órgão não faz o acompanhamento dos animais resgatados.

A Dersa informou ainda que em cada um dos cinco lotes da obra há um pequeno consultório para que sejam dados os primeiros socorros aos animais, além de existirem três veterinários. Barbosa contou que foram construídas 24 passagens subterrâneas para bichos, nos 61 km do Trecho Sul.

Entre os que sobreviveram está uma preguiça, que chegou ao santuário Rancho dos Gnomos, em Cotia. Ela tinha parte do corpo queimado por fios de alta tensão e teve a pata esquerda amputada. “Não recebemos nenhum dinheiro da Dersa pelo que fazemos”, diz uma das proprietárias.

Reportagem de : EDUARDO REINA, eduardo.reina@grupoestado.com.br
Jornal da Tarde

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