terça-feira, 7 de abril de 2009

Empresas de ônibus ameaçam piorar o serviço

Folha de S. Paulo

Em disputa com a prefeitura para ter reajuste, as empresas de ônibus anunciam que os serviços vão piorar. Em carta enviada à Câmara Municipal, sete dos oito consórcios de viações, que transportam 4,5 milhões de pessoas por dia, acusaram a gestão Gilberto Kassab (DEM) de desrespeito contratual e disseram que, "dada a necessidade imediata de redução dos custos", haverá "prejuízos irreparáveis na qualidade dos serviços".

A carta não deixa claro o que isso significa. À reportagem, o sindicato das empresas de ônibus disse apenas que está em negociação com a Secretaria Municipal dos Transportes. Assinam o documento os consórcios Bandeirante, Sambaíba, Plus, Via Sul, Unisul, Sete e Sudoeste.

Já o sindicato dos motoristas e cobradores diz que, na prática, os efeitos para a população nas ruas já começaram. Na zona sul, por exemplo, algumas empresas estariam colocando menos ônibus nas ruas. "As férias escolares acabaram, mas a frota seguiu reduzida", diz Isao Hosogi, presidente do sindicato.

No fim de 2008, os ônibus tiveram a maior taxa de reprovação dos passageiros na década. A satisfação, que já foi de 61% em 2004, atingiu 40%, segundo pesquisa da ANTP (associação de transportes públicos).

Pano de fundo
O impasse entre empresas de ônibus e prefeitura tem como pano de fundo a crise financeira, a promessa de Kassab na campanha eleitoral de manter a tarifa congelada em R$ 2,30 neste ano e a redução dos subsídios ao transporte (valor que a prefeitura paga para manter a tarifa num valor mais baixo).

As viações alegam que foram reduzidos em até 90% os bônus contratuais que recebiam proporcionais à idade dos ônibus. Dizem que investiram em veículos novos e que, agora, não estão sendo recompensadas. Uma consequência para os passageiros é a queda da renovação da frota -as empresas só devem comprar 175 veículos novos neste ano, contra a média anual de 1.700 desde 2005.

Os empresários de ônibus também afirmam que a gestão Kassab fixou de forma unilateral um reajuste contratual (que ocorre anualmente em março) médio de 7%, inferior ao aumento de custos do sistema. Mas reclamam que o consórcio Leste 4, o único que não subscreveu a carta enviada à Câmara, teve aumento maior na remuneração: 11,65%.

A prefeitura não explicou à reportagem a diferença de critérios e não se pronunciou sobre a posição das empresas. Os questionamentos dos empresários começaram no final de 2008, quando a prefeitura anunciou um congelamento dos subsídios ao transporte -comprometendo-se a quitar eventuais dívidas em 2010.

Para as viações, a medida era inviável diante do aumento dos custos e da promessa de campanha de Kassab de manter a tarifa de ônibus em R$ 2,30.

A remuneração das empresas é por passageiro transportado, independente do preço da passagem cobrado do usuário. Mas, como ela está congelada desde novembro de 2006 e a prefeitura não se dispôs a dar mais subvenções, as viações dizem que a conta mensal não consegue fechar.

A decisão de enviar a carta de alerta à Câmara no mês passado -e que foi publicada no "Diário Oficial" do último sábado- foi uma estratégia para pressionar a prefeitura a ceder. O ritmo de turbulência no setor tende a ser acentuado nos próximos meses, já que as empresas começam hoje a negociar com os trabalhadores as condições salariais da categoria -cujo dissídio ocorre em maio.

Um das reivindicações das viações para reduzir custos é a retirada de cobradores dos ônibus, a começar pelos que atuam nos corredores exclusivos. A medida, se adotada, deve ser seguida de reação do sindicato _cujas greves costumam parar a cidade.

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